Na Califórnia, por exemplo, as visitas ao pronto-socorro por motivos ligados à cannabis em pessoas com mais de 65 anos aumentaram de 21 por 100 mil em 2005 para cerca de 395 em 2019. Em Ontário, no Canadá, o atendimento agudo (visitas emergenciais ou internações hospitalares) por uso de cannabis cresceu cinco vezes entre adultos de meia-idade entre 2008 e 2021, e mais de 26 vezes entre aqueles com mais de 65 anos.
– Isso não representa todos os que usam cannabis — alerta Daniel Myran, pesquisador do Bruyère Health Research Institute em Ottawa e autor principal do estudo em Ontário. — São pessoas com padrões de uso mais severos.
Mas como outros estudos já mostraram aumento do risco cardíaco em alguns usuários de cannabis com doenças cardíacas ou diabetes. Por exemplo, uma proporção preocupante de veteranos idosos que atualmente usam cannabis apresenta resultado positivo para transtorno por uso de cannabis, mostrou um estudo recente na JAMA Open.
Entre 4.500 veteranos mais velhos (com idade média de 73 anos) que buscaram atendimento em unidades de saúde do Departamento de Assuntos de Veteranos (VA), os pesquisadores descobriram que mais de 10% haviam relatado uso de cannabis nos 30 dias anteriores. Desses, 36% preenchiam os critérios para transtorno leve, moderado ou grave por uso de cannabis, conforme estabelecido no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais.
Efeitos na memória
Além disso, “há evidências crescentes de um possível efeito sobre memória e cognição”, aponta Myran, citando o estudo de sua equipe com pacientes em Ontário com condições relacionadas à cannabis que buscaram atendimento de urgência ou foram internados.
O estudo mostrou que, em comparação com pessoas da mesma idade e sexo que buscaram atendimento por outras razões, esses pacientes (com idades entre 45 e 105 anos) tinham 1,5 vez mais risco de receber um diagnóstico de demência em até cinco anos, e 3,9 vezes mais risco em comparação com a população geral.
Mesmo após o ajuste para condições crônicas de saúde e fatores sociodemográficos, os que buscaram atendimento agudo devido ao uso de cannabis tinham um risco 23% maior de demência do que pacientes com problemas não relacionados à cannabis — e 72% maior do que a população em geral.
Nenhum desses estudos foi um ensaio clínico randomizado, observaram os pesquisadores; todos foram observacionais e não podem estabelecer causa e efeito. Algumas pesquisas sobre cannabis não especificam se os usuários estão fumando, vaporizando, ingerindo ou aplicando cannabis tópica em articulações doloridas; outros estudos carecem de informações demográficas relevantes.