O líder rebelde Abu Mohammad al-Jolani, que comandou o levante contra a ditadura Bashar al-Assad na Síria, afirmou neste domingo (8) em um discurso na TV estatal do país que não há espaço para voltar atrás na deposição do regime, e que a da HTS (Organização para a Libertação do Levante, na sigla em árabe) está determinada a continuar a revolta que eles começaram em 2011, na Primavera Árabe.
Após conquistar a capital, Damasco, sem resistência do Exército do regime, Jolani, que passou a usar seu nome verdadeiro, Ahmed al-Sharaa, visitou a mesquita da Omíadas, a maior da capital e o quarto local mais sagrado do mundo para os muçulmanos, onde foi recebido por uma multidão que, em árabe, celebrava o momento aos gritos de “Deus é grande”.
Apesar de suas intenções ainda não estarem completamente claras, Sharaa é descrito por analistas como um extremista que, desde 2016, quando rompeu relações com a Al Qaeda, adotou uma postura mais moderada para alcançar seus objetivos.
Durante anos, o líder rebelde agiu nas sombras. Mas agora se posiciona sob os holofotes, dando entrevistas a veículos internacionais e deixando-se ver na segunda maior cidade da Síria, Aleppo, após tomá-la completamente do governo pela primeira vez desde a guerra civil, em 2011.
Com o passar dos anos, ele também parou de usar o turbante típico dos jihadistas e deu preferência à indumentária militar.
“É um radical pragmático. Em 2014, ele estava no auge de sua radicalização”, afirmou à AFP Thomas Pierret, especialista em política islâmica, em alusão ao período da guerra em que tentou rivalizar com o grupo extremista Estado Islâmico. “Desde então, moderou sua retórica.”
Nascido em 1982, Sharaa cresceu em Mezzeh, um distrito abastado da capital. Sua família era rica e ele foi um bom aluno.
Segundo o portal de notícias Middle East Eye, Sharaa começou a se sentir atraído pela retórica jihadista depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos, quando começou a “assistir a sermões e debates clandestinos em subúrbios marginais de Damasco”.
Depois da invasão americana ao Iraque, o líder rebelde deixou a Síria para participar dos combates. Ali, uniu-se à Al Qaeda no Iraque, liderada por Abu Musab al Zarqawi, e passou cinco anos preso, o que o impediu de galgar posições na organização jihadista.
Em março de 2011, quando explodiu a revolta contra Bashar al-Assad, voltou para casa e fundou a Frente Al-Nusra, braço sírio da Al Qaeda.
Em 2013, negou-se a jurar fidelidade a Abu Bakr al Baghdadi, que se tornaria o emir do grupo Estado Islâmico, e favoreceu o líder da Al Qaeda, Ayman al Zawahiri.
Apesar do aparente sucesso do levante liderado por Sharaa, o futuro da Síria sob seu comando é incerto. A HTS não é um grupo homogêneo, mas uma coalizão de cinco milícias principais e seis secundárias, que têm desavenças entre si. A cidade de Daraa, simbólica por ter sido o berço da revolta síria em meio à Primavera Árabe, foi tomada por um grupo que só se juntou aos enfrentamentos contra o regime na sexta-feira, por exemplo.
Além disso, o nordeste da Síria hoje é controlado por um outro grupo, associado aos curdos, uma minoria étnica com um longo histórico de inimizades com a Turquia —que, por sua vez, apoiou o levante da HTS. Recep Tayyip Erdogan acusa a facção de ser ligada ao PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão), organização separatista que seu governo classifica de terrorista.
Folhapress com informações de Reuters e AFP
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