A defesa de Mauro Cid pediu ao STF (Supremo Tribunal Federal) nesta quarta-feira (29) a abertura de investigação sobre o vazamento da íntegra do primeiro depoimento prestado pelo tenente-coronel em sua colaboração premiada com a Polícia Federal.
O depoimento, que embasou a primeira parte da delação do militar, foi obtido pelo colunista Elio Gaspari e publicado na íntegra no sábado (25).
O documento mostra que Cid detalhou grupos que faziam pressão para convencer o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a dar um golpe de Estado —incluindo os nomes de Michelle e Eduardo Bolsonaro entre os mais radicais.
“Tal vazamento ocorreu de forma criminosa, colocando em risco não só o colaborador e sua família, mas também a tranquilidade do andamento processual numa causa tão sensível e de interesse de todo o país”, diz o advogado Cezar Bitencourt na petição enviada ao ministro Alexandre de Moraes.
“Assim, Excelência, medidas devem ser tomadas para se averiguar quem providenciou a quebra do sigilo do mencionado depoimento”, completa.
A defesa diz que o militar “vem cumprindo fielmente os termos do referido acordo” e lembrou que Cid chegou a prestar depoimento à PF sobre um “‘possível’ vazamento, sob pena de rescisão”.
Bitencourt escreveu a Moraes que o próprio ministro assegurou à defesa de Cid o sigilo da delação premiada. Os advogados do tenente-coronel não tiveram acesso às cópias dos depoimentos, por decisão do ministro do Supremo.
“A importância do sigilo da colaboração premiada antes do recebimento da denúncia se faz não só por imposição legal, mas também, evidentemente, para preservar a investigação em curso e o [colaborador], dando-lhe a liberdade necessária para continuar contribuindo para o esclarecimento dos fatos a que se propôs”, diz o advogado.
A delação premiada de Cid com a PF foi homologada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, em setembro de 2023. O primeiro depoimento no âmbito da colaboração impulsionou o inquérito do golpe, mas foi complementado nos meses seguintes, avançando inclusive sobre a participação do general Braga Netto.
Mauro Cid prestou ao menos dez depoimentos à Polícia Federal no âmbito de sua colaboração premiada. Ele deu detalhes aos investigadores sobre as discussões de Bolsonaro e aliados por um golpe de Estado no fim de 2022, a venda de joias de Estado para benefício do ex-presidente e a falsificação de carteiras de vacinação.
Só o primeiro depoimento foi tornado público, no fim de semana, em coluna do jornalista Elio Gaspari na Folha. A oitiva ocorreu em agosto de 2023, e Mauro Cid disse na ocasião que após o resultado das eleições três grupos se formaram no entorno de Bolsonaro.
Folhapress
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