O governo de Israel anunciou que começou a mover tropas para o norte do país, na fronteira com o Líbano, nesta quarta-feira (18). O Ministério da Defesa afirmou que está iniciando uma “nova fase da guerra”, dando indícios de que partirá para o combate contra o grupo extremista Hezbollah.
O anúncio acontece em meio a explosões coordenadas de equipamentos eletrônicos do Hezbollah, entre terça-feira (17) e esta quarta-feira. Mais de 20 pessoas morreram e milhares ficaram feridas. O grupo extremista, que tem base no Líbano, acusou Israel de ter planejado o ataque.
Israel não assumiu a autoria das explosões, e o governo evitou fazer comentários sobre o ataque. Por outro lado, segundo a Associated Press, o país avisou os Estados Unidos sobre a execução da operação.
Veja, a seguir, os pontos que indicam uma escalada no conflito:
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- O Hezbollah tem bombardeado o norte de Israel desde outubro de 2023, em solidariedade aos terroristas do Hamas e às vítimas da guerra na Faixa de Gaza. O grupo extremista controla partes do Líbano e tem histórico de oposição aos israelenses.
- Nas últimas semanas, líderes israelenses emitiram uma série de avisos sobre o aumento de operações contra o Hezbollah. Israel tem bombardeado estruturas do grupo no Líbano.
- Entre terça e quarta-feira, centenas de pagers e walkie-talkies usados pelo Hezbollah explodiram em uma ação militar coordenada.
- Em relação aos pagers, o jornal “The New York Times” informou que autoridades que tiveram conhecimento da operação revelaram que Israel interceptou um lote de pagers encomendado pelo Hezbollah.
- Explosivos foram colocados dentro dos equipamentos, antes da encomenda ser entregue ao grupo extremista. Os dispositivos receberam uma “mensagem falsa” e tocaram minutos antes de explodir, enganando membros do Hezbollah.
- Já nesta quarta-feira, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, disse que estava começando “uma nova fase na guerra”.
- Enquanto isso, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu prometeu que levará de volta para casa os moradores do norte do país, na região de fronteira, que precisaram deixar a área por causa dos bombardeios do Hezbollah.
- Segundo o governo, esse retorno de moradores ao norte do país só seria possível por meio de uma ação militar.
Uriã Fancelli, mestre em relações internacionais pelas universidades de Estrasburgo e Groningen, afirmou que esses sinais indicam que Israel pode estar se preparando para uma resposta mais agressiva e arriscada.
Por outro lado, o professor lembra que esse movimento não tem o apoio dos Estados Unidos. Na segunda-feira (16), o governo norte-americano enviou para Israel Amos Hochstein. Ele se reuniu com Netanyahu, Gallant e outras autoridades locais.
“Hochstein alertou Netanyahu e Gallant de que uma guerra mais ampla no sul do Líbano não ajudaria a trazer os civis de volta ao norte de Israel. Além disso, qualquer operação militar poderia afastar ainda mais a possibilidade de um cessar-fogo, defendido pelos Estados Unidos, e aumentar o risco de uma guerra regional”, afirmou.
Ainda segundo Fancelli, as explosões de equipamentos de comunicação do Hezbollah reforçam uma estratégia para enfraquecer o grupo extremista. Isso dificulta a mobilização dos membros em caso de um ataque de Israel.
Já para a jornalista Sandra Cohen, do g1, Israel atiçou mais combustível ao conflito na fronteira com o Líbano ao promover um ataque inédito contra o Hezbollah.
Diante da escalada no conflito, o Líbano pediu uma reunião do Conselho de Segurança da ONU, que foi marcada para sexta-feira (20).
E a Faixa de Gaza?
Para Uriã Fancelli, a guerra na Faixa de Gaza não seria abandonada por Israel. O que se espera é que o país abra uma segunda frente no conflito.
O professor analisa que, de acordo com o último relatório do Institute for the Study of War, Israel estaria à beira de neutralizar o Hamas militarmente na Faixa de Gaza.
“O grupo, que antes se apresentava como uma força organizada, agora estaria operando de forma desordenada e descentralizada, um sinal claro de que está à deriva”, afirmou.
Com o Hamas extremamente enfraquecido dentro da Faixa de Gaza, as Forças de Defesa de Israel teriam espaço para partir para uma nova ofensiva. O país, inclusive, já adotou uma estratégia semelhante no passado.
“A Guerra do Yom Kipur, em 1973, é um exemplo disso. Israel foi surpreendido por ataques coordenados do Egito e da Síria em duas frentes. No sul, o Egito cruzou o Canal de Suez e invadiu a Península do Sinai; no norte, a Síria atacou as Colinas de Golã. Israel não hesitou: focou primeiro no sul, onde a ameaça egípcia era mais preocupante”, relembrou.
Fancelli afirma que Israel partiu para enfrentar a ameaça síria nas Colinas de Golã apenas depois de conseguir conter o avanço egípcio. Segundo ele, embora tivesse de lidar com duas frentes quase ao mesmo tempo, o país manteve uma prioridade clara.
“Não é difícil traçar um paralelo com a situação atual em Gaza e no Líbano. Israel sabe que, para garantir sua segurança a longo prazo, não pode deixar nenhuma frente aberta.”
“Assim, a estratégia de priorização – focar numa ameaça e depois partir para a próxima – poderia indicar a maneira com que Israel conduz seus conflitos, eliminando qualquer risco que ameace sua segurança, um por um”, conclui.
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